Museu da memória e dos direitos humanos em Santiago

Eu sei que Museu é o tipo de passeio para poucos. Nem todo mundo quer passar horas num local fechado enquanto tem uma cidade incrível do lado de fora pra explorar. Confesso que eu mesma não sou muito fã de museus, costumo selecionar um ou dois pra visitar, com uma temática que me seja agradável. Dentre os inúmeros museus de Santiago, acredito que o da memória e dos direitos humanos seja parada obrigatória, ainda mais para nós, brasileiros que também vivemos um período de ditadura militar.

Museu da Memória e dos Direitos Humanos

Sem dúvida o museu mais triste que já visitei. Cada vídeo, cada carta, cada desenho ali é capaz de nos tocar de uma forma emocionante. O museu é dedicado a retratar as violações aos direitos humanos cometidas pelo Estado do Chile no período da ditadura militar, que ocorreu entre os anos de 1973 e  1990.

Nós entramos no museu pela estação do metrô e a primeira exposição que vimos foi a das Arpilleras, mulheres chilenas que utilizaram a sua arte, uma espécie de bordado e costura de retalhos, para enfrentar e denunciar os crimes cometidos pela ditadura. As arpilleras mostravam através de seus tecidos sua visão do regime militar e de que forma eram impactadas por, em muitos casos, terem seus maridos e filhos sequestrados. Seus bordados foram exportados e revendidos pela Europa, e com o pouco retorno financeiro que tinham, conseguiam dar sustento as suas famílias.

Um exemplo de bordado das arpilleras

Pra mim, a exposição das arpilleras foi a parte mais tocante de todo o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, todos os vídeos e retratos deram uma ideia da força, coragem e bravura das mulheres chilenas durante este período tão difícil.

Além disso, não é tão fácil encontrar em museus obras ou materiais que mostrem a força das mulheres, sua coragem e determinação. Acho que esse misto de dor, e representação foi o que mais me prendeu. Comecei a chorar ali e só me acalmei alguns minutos depois de deixar o museu.

No andar de cima nos deparamos com uma exposição que mostra os países do mundo onde já houve ditadura e quais foram os esforços realizados pelos Estados para trazer os acontecimento à luz. Foi triste lembrar que o Brasil ainda não tem um museu, nem nada que exponha os sofrimentos causados por esse tipo de regime. Acho que o pior é fingir que nada aconteceu por aqui.

Acho que não interessa se você é de direita, de esquerda, ou do meio. Devemos sempre respeitar a vida e os direitos de outras pessoas e manter museus e marcos para evitar que tais tragédias voltem a acontecer.

Nos andares superiores seguimos uma linha do tempo do período da ditadura, desde a tomada do poder, até o fim do regime. Tudo começa no setor chamado 11 de setembro, o dia do golpe militar. Lá podemos ouvir o último discurso do presidente Salvador Allende antes da tomada do poder no Palácio de la Moneda. Encontramos relatos tristes, revoltantes e emocionantes, cartas que presos enviaram para seus familiares antes de serem executados, cartas de crianças procurando seus familiares, vídeos de mães buscando os seus filhos.

Uma outra seção do museu é a exposição “Verdade e Justiça”, um memorial com fotos dos desaparecidos, listas de nomes e velas para cada um. Não dá pra acreditar em quantas vidas foram ceifadas durante um período tão curto e obscuro.

Infelizmente não podemos fotografar dentro do museu, as exposições apesar de tristes são lindas e delicadas, sempre buscando respeitar os cidadãos. Do lado de fora vemos uma escada de acesso a aviões, representando a fuga e a liberdade para uma população oprimida.

Asilo/Exílio

Ainda que política não seja muito a sua praia, se você acha que direitos humanos não é importante, ou o que for, a visita no Museu da Memória vale muito a pena. Esse é um daqueles casos onde a ignorância definitivamente não é uma benção. Ninguém merece passar pelas atrocidades que aquelas pessoas viveram, e é muito bom sabermos do que o ser humano é capaz.

Além disso, pelo fim da ditadura no Chile ter sido tão recente, a visita ao Museu diz muito sobre a cultura deste povo que aparenta ser distante e fechado.

Como chegar

Metrô: Estação Quinta Normal – Linha 5 – Verde. Tem uma entrada para o museu na própria estação, é só seguir as plaquinhas.

Horários

De terça a domingo, das 10 às 18h. Nos meses de janeiro e fevereiro, das 10 às 20h.

Fechado: Todas às segundas-feiras e nos seguintes feriados: 1º de janeiro, 1º de maio, 18 e 19 de setembro e 25 de dezembro.

Importante: entrada gratuita. Não tem desculpa pra não visitar.

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Uma resposta

  1. Mina, também aproveitei demais a visita, foi muito enriquecedor e emocionante. Gostaria de ter reservado mais tempo pra passar lá. O museu é incrível, e reflete a consciência do povo chileno da sua história recente.

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